quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Gênero Religioso - Parte 1. Jesus Cristo no Cinema.

    Em comemoração aos festejos da Páscoa que por meio de seu simbolismo acaba por ocasionar uma profunda reflexão sobre a passagem de Jesus Cristo em vida terrena com os ensinamentos cristãos, vos trago agora uma breve analise de um gênero especifico do Cinema que sempre se manifestou como um grande campo de apropriação cinematográfica: O Drama Religioso.

            Fato é que a comoção da vida e paixão de Jesus Cristo, grande símbolo da história da humanidade, sempre despertou os olhares dos cineastas, tornando-se no decorrer dos anos, um espaço de inúmeras interpretações acerca dos acontecimentos ocorridos. 
             Não obstante, um dos primeiros grandes filmes do Cinema tratou-se justamente de um grande épico religioso chamado “La vie et la passion de Jésus Christi", em português “Paixão e Vida de Jesus Cristo”, filmado no ano de 1903  de autoria do cineasta Ferdinand Zecca. De origem francesa, a película expunha em 44 minutos as passagens cruciais da Bíblia, enfim de toda a trajetória de Jesus Cristo por sob a terra, com filmagens ainda sob molde teatral, caracteristicos dos príncipios do Cinema mudo.

 La vie et la passion de Jésus Christi

            De 1903 para 2011, temos um grande alargamento temporal, e deste tempo decorrido sobressaltam algumas grandes obras religiosas que marcaram época, frente a outras tantas de mesmo teor temático, contudo mais desconhecidas.

            Destes grandes filmes, não aparecem somente obras voltadas propriamente a vida de Jésus Cristo, como também de personagens importantes que o cercavam, como Maria Madalena, sua mãe Maria, Judas Iscariotes, todos os seus discípulos, enfim, há uma enormidade de temas abordados dentro do gênero histórico.

           Longe de querer analisar todos os filmes existentes, até porque seria inviável e impossível, almejo apenas listar alguns filmes que admiro, e que me habituei a assistir desde a tenra infância. Alguns grandes clássicos consagrados, outros nem tanto.

            Aparecerão na história do Cinema, filmes mais transversais em relação à vida de Cristo, sendo assim, aparecendo então outras histórias, outras personagens bem posteriores ao mesmo. O que não os diferencia e o que torna todas as obras bastante próximas é justamente o caráter moral, religioso. 

           Por conseguinte pode ocorrer de alguns grandes filmes louváveis acabarem não figurando na lista. Não se trata de escolhas ou juízos de valores. Por assim dizer, a minha falha memória pode consecutivamente me trair e com isso somente prometerei expor alguns filmes, de forma a ilustrar mesmo, sobre a temática. Na primeira parte desta postagem, postarei apenas alguns filmes diretamente ligados a figura de Jesus Cristo, ou seja, biografias do mesmo. Mais tarde, em outras ocasiões, postarei sobre seus circundantes como também filmes que abordam contextos religiosos interessantes e que são basicamente posteriores a Cristo.

      Dito isto,vamos agora tecer pequenos comentários sobre algumas obras em especial:

1. Jesus de Nazaré, de Franco Zefirelli ( 1977).

           Com certeza trata-se de uma das maiores, se não a maior, representações biográficas da vida de Jesus Cristo. Exibido com certa fluência em datas como a que vivemos neste momento, esta obra é uma co-produção italiana e inglesa, rodada em 1977, por seu idealizador o grande cineasta italiano Franco Zefirelli, que ao transmiti-lo em formato mini-serie, acabou levando-o também as telas do Cinema.

         Com mais de sete horas de filmagem, a película consegue percorrer significativamente grandes passagens da vida do Cristo, passando da sua infância até o momento de sua morte e posteriormente sua ressurreição. Vale destacar no filme a grande interpretação do ator Robert Powell que desempenha justamente a dificil tarefa de tentar encarnar Jesus em corpo e alma. 

     Enfim, sem mais delongas, esta obra é um clássico que considero que todos se ainda não a assistiram, já ao menos tiveram a oportunidade de contato. Passou-se o tempo, mais ainda este filme setentista ainda continua sendo um modelo para os épicos religiosos atuais.

Jesus muito perto de ser condenado.

2. A Paixão de Cristo, de Mel Gibson (2004).

     De assumido grande impacto, esta película mais contemporânea acabou sucitando as mais diversas opiniões sobre seu possível teor moral.  De autoria do cineasta Mel Gibson, a película logo de cara acaba por se destacar pelo carater decididamente perfecionista como são todas as obras destes respectivo cineasta. Gibson sempre inovara em suas obras ao utilizar-se das linguas matrizes locais de cada local, de cada época. Portanto, em a Paixão de Cristo são faladas as linguas da época de Jesus, que são o aramaico, o latim e o hebraico. Este " Efeito de Realidade" traz ao filme uma dimensão muito especial e o sentido de realidade frente ao público se torna justamente muito maior por esta adoção linguistica.

    Essêncialmente a obra como as demais do gênero procura abordar os fatos ocorridos na vida de Jesus, contudo esta acaba inovando ao adotar o Flash Back para rememorar os fatos pensados e vividos pelo Cristo. 

   Contudo o filme ganharia mais destaque e mais considerações na imprensa e pelos críticos que a foram, devido a uma possível brutalidade e excesso de violência que choca durante a execução do filme, e principalmente sob certa acusação de antisemitismo por parte do diretor, Mel Gibson, do que por sua qualidade técnica que é também impressionante.

Jesus e as marcas do sofrimento: Um exagero por parte de Gibson?

   Sobre uma possível demonstração exagerada do sofrimento de Cristo, o proprio Papa a época chegou a dizer que o filme era relevante na medida em que expunha realmente as dores que Jesus havia sofrido por nós. Ou seja, o Vaticano aprovara a obra.

   No tocante ao quesito do antisemitismo, algumas correntes judaicas contestam e acusam Mel Gibson, este religioso bastante conservador, de ter dado a cabo uma visão deturpada e impondo uma visão sobre os judeus como os verdadeiros responsaveis pela condenação e morte de Cristo.

  Enfim, polêmicas a parte, o filme é tecnicamente muito bonito, o choque de realidade é impressionante, e as atuações de Jim Caviezel como Jesus Cristo e principalmente da atriz Rosalinda Celentano como no papel de Satanás são decidamente louvaveis entre outras tantas questões do filme.

O Diabo representado na figura tentadora.


3. O Rei dos Reis, de Cecil B. de Mille (1927).

   Grande épico relígioso típico de B.de Mille, a película " O Rei dos Reis" marcaria a época justamente pelos grandes cenários, pelas vestimentas e pelo grau de investimento em geral. Por ser de 1927, ainda caracteriza-se como do Cinema Mudo, contudo sua fama aparece justamente além dos grandes arranjos arquitetônicos bem avançados para a época, inovará também quando B.de Mille procura utilizar-se de certos truques de ilusão para recriar os milagres da vida de Cristo, como o andar sobre o mar e a transformação da agua em vinho.

   Enfim, trata-se de um grande clássico ainda hoje muito cultuado. Grande filme com quase 2 horas e meia de relato biblico, com destaque para o ator H.B. Warner que interpreta com muita lucidez a Jesus.

H.B.Warner como Jesus.

4. A Última tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1988).

        Com certeza nenhum filme conseguiu causar tanta comoção dentro das estruturas da Igreja, nos meandros do Vaticano, como esta película de Scorsese conseguira. Isto tudo porque o filme faz uma releitura dos momentos finais da vida de Jesus, também utilizando-se do efeito Flash Back, onde o mesmo vai rememorando variadas questões de sua vida, arrenpendendo-se de algumas, lamentando-se por outras, dando margem então a personificação de um Jesus mais humano e menos divino, sujeito a erros. Neste, em outras tantas abordagens, Jesus se imagina como teria sido seu destino caso tivesse casado com Maria Madalena, como também é demonstrado como um sujeito inseguro cuja relação com seu pai Deus é sempre tumultuada.

    Enfim, a película de pronto foi considerada como herética e não recomendada aos cristãos por ser considerada desviante dos bons costumes, por parte das ordens do Vaticano. O Filme é inspirado assim na obra homônima do escritor grego Nikos Kazantzakis que obviamente também sofreu inumeras críticas por parte da Igreja, mas seu livro não menos tornara-se um best seller mundial a ponto de ser alçado como vemos a uma película.

  Aos de pensamento mais fechado o filme torna-se um exercicio dificil, mas a leitura passada com a obra é interessante, e no mínimo é necessário assistí-lo para poder então criticar suas idéias. 

  No campo da atuação vale destacar com absurda certeza o grande papel desempenhado pelo ator Willem Dafoe que encarna com perfeição esse Jesus humano, cheio de tentações, dúvidas e incertezas sobre seu destino e sua natureza. 

Dafoe como um Jesus atormentado está sensacional.

  Enfim, não obstante, ainda hoje a obra causa grandes polêmicas sendo idolatrada por alguns, e sendo destroçadas por outros. Vale assistir e tirar sua propria conclusão tanto sobre este filme como quanto aos outros citados. Uma Boa Páscoa a todos!

Ass: Rafael Costa Prata 

Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.

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