sexta-feira, 21 de março de 2014

A história da explosão “Zumbi”: dos “voodus haitianos” aos mortos vivos “modernos”

The Walking Dead.  Eis o nome de um dos seriados televisivos de maior sucesso em todo o mundo. Baseado em uma graphic novel  escrita por Robert Kirkman – e desenhada por Tony Moore -, o seriado descreve a atuação de um grupo de sobreviventes em um mundo pós – apocalipse, quando o planeta está inteiramente dominado por mortos – vivos.  
Além desse seriado, muitas outras produções culturais, como livros e as citadas graphic novels sobre a temática inundam o mercado, demonstrando como os “zumbis” estão em seu ápice, com uma grandíssima aceitação de mercado.
Mas nem sempre foi assim. Aliás, a história do sucesso comercial dos ditos mortos – vivos no Cinema, tem sua origem há um bom certo tempo atrás, e com um fio condutor diferente, de viés “místico religioso”.


Nesse sentido, a primeira película voltada a temática dos “zumbis” foi o clássico do ano de 1932, “Zumbi Branco”, dirigido por Victor Hapelrin, e protagonizado pelo ícone do terror, Bela Lugosi. Nessa película, assim como em outras da época e de décadas seguintes, a história do zumbi é criada sobre o ponto de vista da religião, ou seja, partindo da ideia da “produção de zumbis” por meio da prática de voodus.

Curiosamente esse foi o fio condutor das películas até mais ou menos o final dos anos 1960, quando a questão se altera. Mas, assim como em “Zumbi Branco”, outras películas como “A Morta Viva” (1943) e “Epidemia de Zumbis” (1966) vão sempre utilizar a prática de voodus na construção de seus enredos. Dessa maneira uma serie de filmes parecidos são construídos, tomando como premissa sempre a ideia que através das mesmas é possível conseguir a subserviência das pessoas. Bom, nesses filmes acaba sobressaindo até uma ideia preconceituosa do Haiti, sempre descrito e representado com ojeriza. Quem vai lá pode está correndo perigo, e quem voltou de lá é temível.


Nessas películas, no entanto, o “zumbi” não é o de nossos tempos. Não é o morto vivo que reanimado sai de sua sepultura sedento por carne humana. O “Zumbi Haitiano” é quase sempre uma pessoa viva, que por conta do processo “mágico” acaba se tornando um escravo do praticante da magia, mas não um “comedor de carne humana.
No entanto, como dito, o final dos anos 1960, mais precisamente o ano de 1968, representa a ruptura dessa questão, e principalmente a entrega de um novo estilo, um novo roteiro, um “novo zumbi”. Foi com o cineasta George Romero que a temática ganha uma nova face, mais aterrorizante, mais sanguinolenta, deixando de lado esse aspecto religioso.

Com sua película “A Noite dos Mortos Vivos” de 1968, Romero renova o estilo e apresenta o que seria praticamente a “certidão de nascimento” e o “RG” do “zumbi moderno”. Os zumbis agora são “mortos – vivos”, que por algum motivo, justificativa que vai variar de acordo com os filmes, são reanimados e acabam saindo de suas tumbas em busca da carne humana viva que ajuda a saciar a dor da morte.
Essa película, que já analisei os aspectos sociais e ideológicos da mesma nesse blog, revolucionou não só a temática, como também o gênero do terror em geral na época. Causou furor de um lado, e medo e reclamações por outro lado, no entanto, daí em diante se tornou o modelo a ser seguido. Uma serie de filmes, inclusive do próprio George Romero, como o “Despertar dos Mortos” (1978) e “Dia dos Mortos”(1985), vão dar continuidade as novas características da temática, alcançando cada vez mais o público e o sucesso comercial.


Os anos 1980 foi o palco ideal da temática pois uma serie de filmes populares foram produzidos em larga escala. Clássicos do chamado “TERRIR”, gênero que de certa forma significa a mistura do terror com a comédia, como a trilogia “O Retorno dos Mortos Vivos”( 1985, 1988,1993) são símbolos comerciais da temática na década em questão. Aliás, o sucesso foi tanto que um dos clipes musicais mais conhecidos de todos os tempos, se não for o mais conhecido, chamado “Thriller”(1982) do astro da música pop, Michael Jackson, é inteiramente dominado por zumbis.


Guerra Mundial Z (2013), Extermínio (2002), Zumbilândia (2009), e uma serie de outras películas dão prova que a temática não descansa e não encontra antipatia por parte do público. A Idéia de acordar um dia e se chocar com uma horda de mortos – vivos batendo a porta parece exercer um fascínio aos olhos do público.


De outra maneira, como já demonstrei nesse blog por meio das análises dos filmes de George Romero, a temática muitas vezes possibilita e até serve como um espaço bem prolifero para se manifestar uma crítica social, que vai desde o racismo – A Noite dos MortosVivos (1968) é o paradigma disso -, ao consumismo “ O Despertar dos Mortos”(1978), e até outras questões, ainda que não necessariamente todos os filmes do gênero estejam dotados dessa questão.

Assim, dita estas questões, percebemos o quanto o gênero se renova, se altera, se aperfeiçoa, mas continua atendendo a “demanda” de um público que parece sentir carinho pelas horripilantes figuras. Talvez por não possuírem um talento especifico, e terem sua força representada na coletividade, os “mortos vivos” se adaptem mais aos novos tempos. Assassinos seriais no Cinema, como Jason Vorhess, Mike Myers e Freddy Kruegger parecem ter cansado o público, mas os “mortos vivos” ainda que “batidos” ainda não cansaram. Porque será? Os tempos mudam e eles continuam por ai, reanimados, por conta de um gás, um experimento mal feito, ou o quer que seja, batendo na porta das pessoas, pedindo além de um pedacinho de suas carnes, o ibope de cada dia.

Ass: Rafael Costa Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe



4 comentários:

  1. Muito bom o texto!! Muito bom mesmo. Não conhecia o “Zumbi Haitiano” ,me pareceu preconceituoso mesmo. E é como você disse, os filmes vão se renovando mas,no fim das contas, a essência é a mesma!
    Beijooos!!

    Thai :)

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  2. Valeu Thai :) Então, os primeiros filmes de terror sobre "zumbis" tinham essa temática mais voltada a religião. Querendo ou não, acabava passando uma ideia preconceituosa sobre questões do voodu haitiano. Mas ai G.Romero "chegou" e remodelou a temática... Brigadão pelos elógios... :)

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  3. Ótima análise. Também desconhecia esses questionamentos levantados no texto. Que venha o próximo diretor para dar uma nova roupagem nessa temática. Esse é o bacana do cinema.

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  4. Valeu Edvaldo Alves.. :) Sou muito fã do gênero, e em particular de George Romero porque este, como procurei demonstrar na postagem, além do terror naturalmente característico do filme, também conseguia levantar alguns questionamentos de ordem social... :)

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